Atualmente, muito se fala em inovação e transformação digital, principalmente devido aos últimos acontecimentos como a pandemia de Covid-19. A Inteligência Artificial (IA) vem destacando-se ao longo dos anos e a sua utilização em larga escala não é mais futurista e sim, uma realidade que já estamos vivenciando.

Hoje, você confere uma entrevista com Cezar Taurion, sócio e líder de operação da Kick Ventures, organização voltada à conexão de startups com o mercado de Tecnologia da Informação, além de ser autor, estudioso e entusiasta da tecnologia!

O tema da conversa é voltado à utilização da Inteligência Artificial e os seus impactos no futuro da sociedade, educação, carreiras e negócios, além da utilização da tecnologia Blockchain.

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Inteligência Artificial e o futuro

Há muitos anos o tema “Inteligência Artificial” (IA) vem sendo abordado em filmes, livros, séries, entre outros. Clássicos do cinema como “Metrópolis” (1927) e “Uma Odisseia no Espaço” (2001), por exemplo, trazem uma visão futurista (na época) sobre a atuação da tecnologia em conjunto com a sociedade através de robôs, inteligência artificial avançada, computadores com algoritmos avançados etc.

Porém, a globalização permitiu a evolução de tecnologias emergentes que ao passar dos anos, rapidamente foram desenvolvidas e agora, fazem parte do nosso cotidiano já de forma avançada, em pleno século XXI.

A pandemia causada pela disseminação do novo coronavírus (Covid-19), desencadeou uma crise mundial sem precedentes. A catástrofe reforçou a importância e consequentemente, o quanto a tecnologia é importante para nós.

Você já parou para refletir como será o nosso futuro?

De acordo com Cezar Taurion, “Prever o futuro é muito arriscado, mas quando juntamos alguns sinais esparsos, que aparentemente não se conectam, uma imagem começa a fazer sentido. É por aí que conseguimos ter amostras do que vem pela frente. O que temos: mais e mais digitalização na sociedade, com pessoas mais acostumadas a usar tecnologias digitais, sensores, wearables, evolução da IA…fica claro que tudo o que puder ser automatizado, o será. É questão de tempo”.

Segundo Taurion, estamos vivenciando uma verdadeira mudança de era, saindo do período que conhecemos como sociedade industrial e entrando na que provavelmente poderá ser conhecida como sociedade digital.

Como vimos, a transformação digital vem fazendo-se presente em praticamente todos os setores. Mas, como explicar o fenômeno da digitalização em massa no segmento empresarial?

“O mundo digital permite que haja uma redução na fricção dos processos e assim, as coisas se aceleram. Essa aceleração faz com que a mudança seja contínua. Assim, em uma era digital, as empresas têm que ser ágeis, rápidas, adaptáveis e elásticas. A transformação digital não é um fim em si mesmo, mas o meio de transformar a empresa com as características citadas”, comenta Cezar.

Atualmente, os processos não são mais iguais à um passado não muito distante. A digitalização permitiu a desburocratização de procedimentos que antes poderiam demandar o envolvimento de muitas equipes e consequentemente mais tempo para sua execução.

Podemos citar como exemplo, o surgimento e consolidação dos bancos digitais, digitalização dos processos judiciais, telemedicina, entre outros. Diante deste cenário,

é imprescindível que todos acompanhem a transformação digital que vem ocorrendo de forma acelerada e estejam atentos às tendências mercadológicas que englobam a utilização de novas tecnologias e inteligência artificial em suas atividades.

“Isso implica que os profissionais têm que estar continuamente se reciclando. Eles não podem ficar esperando que a empresa os atualize. A mudança está cada vez mais rápida e atualizações que a empresa fizer, serão mais lentas do que as que cada indivíduo pode fazer para sua própria vida profissional”, explica Cezar.

A 4ª revolução industrial é marcada pela transição direcionada à novos sistemas construídos por meio de uma infraestrutura digitalizada.

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Quais os principais impactos da IA?

O mundo está em constante desenvolvimento e, diga-se de passagem, de forma acelerada. Vemos a cada dia, pequenas mudanças mas que pode ser significativas tanto a curto, quanto a longo prazo.

A Inteligência Artificial envolve a união de redes neurais, algoritmos, sistemas de aprendizados, entre outros, objetivando a simulação da capacidade cognitiva humana. Desta forma, a IA também é utilizada em atividades que demandem raciocínio, percepção de ambiente e necessidade de tomada de decisão mais assertiva.

Estas características, a tornam uma das principais tecnologias disruptivas da atualidade. Porém, a sua evolução depende de dados e do aprendizado dos algoritmos.

Mas, é válido ressaltar que existem riscos. “O viés é uma possibilidade real e quase certo na maioria das aplicações de IA. Pode ser causado pela escolha das variáveis e pelos dados de treinamento. É essencial garantir que o projeto está aderente aos princípios de “AI responsible”, atendendo aos compromissos da organização com ética, privacidade, “fairness” e aberto à auditoria. O fato de podermos usar IA não significa que devemos usar IA se estes princípios não forem atendidos”, explica Taurion.

Mercado de trabalho x Inteligência Artificial

Sobre o impacto da utilização da IA no mercado de trabalho, Taurion explica que a rápida evolução da IA traz impactos tão significativos que ainda não percebemos sua amplitude.

“Não temos ideia de como será o mercado de trabalho em 2050, mas sabemos que a IA e a robótica vão mudar quase todas as modalidades de trabalho atuais, transformando as carreiras e profissões como as conhecemos hoje”.

Ainda de acordo com ele, a Inteligência Artificial abre grandes oportunidades. Um estudo da PwC estima que a contribuição potencial da IA para a economia global será de US$ 15,7 trilhões em 2030, ganhos capturados principalmente pela China e EUA.

A evolução da transformação e utilização da IA, são temas muito debatidos e não se tem respostas definitivas. Quanto mais um país tiver dados (mais digital ele for), mais os algoritmos irão aprender gerando um círculo virtuoso que aumenta indefinidamente.

Cezar também explica que existem duas correntes de pensamentos.

Uma mais otimista que acredita que, “como a sociedade humana já passou por revoluções antes, como a industrial, e no longo prazo gerou-se mais trabalho que antes, o fenômeno se repetirá naturalmente”.

Já a segunda, é mais pessimista e aponta que “já existe evidência de uma crise social, que será inevitável, a menos que a sociedade atue com seriedade e urgência para mitigar seus efeitos”.

É importante ressaltar que os computadores não substituirão os humanos, apenas funções. Isso quer dizer que a tecnologia será complemento e não substituta das atividades e o seu uso pela sociedade determinará se os seus efeitos serão positivos ou negativos.

“Os negócios mais valiosos do mundo das próximas décadas serão desenvolvidos por empresas que usarão a IA para fortalecer as pessoas e não torná-las obsoletas. Serão vencedoras as empresas que souberem fazer com maestria com que os sistemas de IA. ajudem os humanos a fazerem o que antes era considerado inimaginável. A IA. não envolve uma equação de soma zero, humanos versus IA., mas sim de complementaridade, humanos mais IA gerando mais inteligência”, explica Cezar.

Inteligência Artificial x Educação

Outra vertical bastante afetada pela aceleração da transformação digital de forma repentina, é a educação. As instituições de ensino que ofereciam aulas presenciais aos estudantes, de repente precisaram migrar para o ensino remoto de forma a continuar o ensino e o cumprimento do calendário acadêmico.

A tecnologia através de seus recursos não deixou a desejar. Salas de bate-papo, ambientes virtuais de aprendizagem e outros métodos passaram a ser utilizados com urgência pelas instituições e alunos.

O atual modelo de educação foi moldado no século XX, pautado pela busca de vínculos estreitos com as demandas do mercado de trabalho da sociedade industrial. “Porém, no século XXI, não podemos mais pensar na educação apenas como um conjunto de habilidades e conhecimentos para fins especializados: as máquinas passam a adquiri-los. A IA pode reunir e entender um amplo conjunto de dados individualizados sobre a aprendizagem dos alunos e orientar continuamente o processo de educação.”, comenta.

Cezar ainda explica que vivemos em uma sociedade digital e que a IA está cada vez mais permeando nosso dia a dia. “Se usada adequadamente, a IA nos abre um caminho para uma meta há muito buscada pelos melhores professores: aprendizado personalizado e em torno de disciplinas individuais, de acordo com as características pessoais de cada aluno. Afinal, se cada pessoa aprende melhor de um jeito, não faz sentido que todas sejam expostas a um mesmo tipo de aprendizagem”.

Ele ressalta que este cenário não significa eliminar absolutamente a figura do professor, mas “criar uma sinergia entre máquinas e humanos no processo educacional. O professor deixando de ser um provedor de conteúdo e tornando-se um mentor, um curador. A educação, claramente, precisa se reinventar para que a nossa sociedade consiga enfrentar o desafio do século XXI. As habilidades que conhecemos como soft skills, passam a ser preponderantes.

Confira a continuação do bate-papo com Cezar Taurion, a seguir!

A IA terá papel fundamental no processo de ruptura do modelo educacional?

“A IA terá esse papel fundamental. O grande desafio das sociedades é saber para quais profissões preparar as pessoas. Uma criança de dez anos irá trabalhar em profissões que nem sabemos quais são, pois muitas ainda não foram inventadas. E muito provavelmente, em sua carreira profissional, atuará em diversas profissões.

Assim, a educação não pode formar alguém para algo que não sabemos por quanto tempo existirá, mas preparar os indivíduos para se adaptarem rapidamente a novas profissões e papéis. O que sabemos é que muitas profissões atuais desaparecerão e outras serão criadas. E todas, sem exceção, serão transformadas.

Um livro que debate profundamente o assunto é “The Future of The Professions” de Richard e Daniel Susskind, leitura instigante e que todos interessados em debater como será o trabalho no futuro devem ler. A IA pode e terá papel importante no redesenho da educação.

Porém, ela não deve ser vista como tecnologia ameaçadora que eliminará o professor do sistema educacional, mas como poderosa ferramenta de apoio no desenvolvimento de um novo modelo educacional.

A educação precisa e vai mudar. A Inteligência Artificial ajudará nesse processo, mas o mais importante é que todos os atores envolvidos estejam sintonizados com o potencial e limitações da tecnologia, e a usem de forma inovadora, para redesenhar o atual modelo”, explica.

Quais os principais desafios trazidos pela inovação? Como você avalia a transformação digital pela qual várias instituições estão passando atualmente?

“Muitas empresas que se diziam digitais mostraram na prática que não estavam. Tiveram grandes dificuldades de se adaptarem a um cenário inesperado, online.

Este cenário mostra que está claro e cada vez mais premente a necessidade das empresas começarem a transformação dos seus negócios, pressionadas pela velocidade das mudanças provocadas pela revolução digital.

Muitos executivos com os quais converso demonstram claramente que sabem que, ao longo dos anos, suas empresas acabaram se acomodando, fazendo o que sempre fizeram, com apenas algumas melhorias incrementais.

Sabem também que se mantiverem aferrados a esse ritmo de mudanças graduais, suas organizações se tornarão irrelevantes com o passar do tempo.

Entendem que é a própria sobrevivência do negócio que está em jogo e que a revolução digital permite mudanças revolucionárias e não apenas evolucionárias. Apostar continuamente no futuro passa a ser a regra do jogo”.

Qual a perspectiva de uso da IA e Deep Learning no futuro?

“O impacto da IA para as próximas décadas será tão grande quanto foi o microprocessador para o século 20. Um instigante e polêmico livro foi “Superintelligence: paths, dangers, strategies”, de Nick Bostrom, diretor do Future of Humanity Institute, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Apesar do tema aparentemente ser inóspito, o livro chegou a ser um dos best sellers do New York Times. Ele debate a possibilidade, real, do advento de máquinas com superinteligência, e os benefícios e riscos associados.

Ele pondera que os cientistas consideram que houveram cinco eventos de extinções em massa na história de nosso planeta, quando um grande número de espécimes desapareceu.

O fim dos dinossauros, por exemplo, foi um deles, e que hoje estaríamos vivendo uma sexta, essa causada pela atividade humana. O livro, claro, desperta polêmica e parece meio alarmista, mas suas suposições podem se tornar realidade.

Pelo lado positivo, Bostrom aponta que a criação destas máquinas pode acelerar exponencialmente o processo de descobertas científicas, abrindo novas possibilidades para a vida humana. Uma questão em aberto é quando tal capacidade de inteligência seria possível.

Uma pesquisa feita com pesquisadores de IA, apontam que uma máquina superinteligente – Human Level Machine Intelligence (HLMI) – tem 10% de chance de aparecer logo após 2020 e 50% em torno de 2050. Para 2100, a probabilidade é de 90%!

Como o head de IA da Singularity University, Neil Jacobstein, disse: “Não é a inteligência artificial que me preocupa, é a estupidez humana”. Ignorar ou minimizar a importância do assunto é o que nos deve preocupar”, pondera.

E a tecnologia Blockchain? Quais as perspectivas para a sua utilização e em quais vertentes ela será usada com mais afinco?

“O Blockchain tem potencial mas é ainda um tsunami em alto mar. Temos poucas aplicações usadas em larga escala. Mas, antes de mergulhar de cabeça em iniciativas de blockchain valide que aspectos da organização será vulnerável a desintermediação e qual a probabilidade de isso acontecer.

A tecnologia é potencialmente disruptiva para todos os intermediários. A probabilidade de disrupção é proporcional ao custo, à complexidade e ao grau de duplicação das transações no atual sistema de intermediação.

Pense em como reimaginar meu negócio à luz do potencial de mudanças provocadas pela desintermediação e como e quando iniciar a mudança, antes que alguém a faça.

Estude onde poderá aplicar blockchain como vantagem competitiva e com ele oferecer novos serviços e até novos modelos de negócio”.

Premissas

“Algumas premissas devem definir as estratégias de aplicação de Blockchain pelas organizações.

Primeiro, Blockchain é muito mais sobre colaboração do que competição. Implementar Blockchain sozinho dificilmente será compensador. Setores fragmentados, com desconfianças mútuas e custos altos de transação entre si, são alvos preferenciais de aplicação da tecnologia. Um exemplo: o setor de healthcare.

Por outro lado, quanto maior a extensão de um Blockchain e quanto mais heterogêneos forem os seus participantes, mais complexo será o desafio de definir uma estratégia comum.

Em Blockchains “consorciados”, o gerenciamento do consórcio entre membros, que atualmente competem entre si, será um fator crítico”.

Estratégia

“Na sua estratégia não se esqueça de perguntar “Quem paga pelo Blockchain?”.

Sua implementação é suportada por um ecossistema estável e apto para aplicações de missão crítica?

Compreender claramente os incentivos e os fatores econômicos por trás de cada opção de Blockchain pode poupar muitos problemas futuros, de escolhas erradas.

Cada empresa deve definir sua estratégia. Não existe uma resposta única. Mas, ignorar o assunto Blockchain é a única estratégia que não dará certo!”, finaliza Taurion.

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